sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

MONTEVIDEO


MONTEVIDEO

J. B. LIMA


J. B. LIMA

A capital do Uruguai é uma das mais belas cidades da América do Sul. Situada numa planície, às margens do Rio da Prata, caracteriza-se pela existência de inúmeras praças, muito arborizadas, a maioria cercada por edifícios de arquitetura antiga, quase todas contendo majestosos monumentos. Sua orla marítima é bem cuidada, muito extensa e ajardinada, possuindo um calçadão agradável para quem deseja fazer suas corridas e caminhadas. As águas do rio se confundem com as do Oceano Atlântico, fazendo limites com a Argentina, possuindo uma largura de centenas de quilômetros entre os dois países. Na parte turística, Montevideo se destaca possuindo uma excelente rede de hotéis, diversas casas de tango, teatros e muitos passeios interessantes. Possui, também, uma boa quantidade de restaurantes, churrascarias, principalmente, dada a excelência de sua carne. Um dos lugares em que se sobressai, é o Café Carlos Gardel, que tem em sua calçada fronteiriça a estátua do cantor sentado em um banco, com espaço para fotos com turistas. No Uruguai o jogo permitido, existindo diversos cassinos. Mayra, uma uruguaia bonita, 23 anos, solteira, bailarina clássica, pertencente a uma família de classe média, moradora em uma boa casa com seus pais, num bairro também de classe média, costumava, pela manhã, fazer suas corridas todos os dias, pelo calçadão da orla. Bonita, com um corpo invejável, era uma das atrações do local. Rodolfo, professor de educação física, também é frequentador do espaço. Bem-apanhado, 25 anos, vinha há já um certo tempo, tentando se aproximar de Mayra. Apenas, só um bom-dia, até amanhã, era o que conseguia, no máximo. Até que, um dia Mayra pisa numa pedra e sofre uma queda. Mais que depressa, estando um pouco atrás da moça, vai socorrê-la.


Cléa Magnani

Com a ajuda de Rodolfo Mayra tentou se levantar, mas soltou um gemido e não conseguiu andar. Se deixou amparar pelos braços fortes do rapaz que a conduziu ao Pronto Socorro mais próximo. Depois das radiografias o Médico disse: A senhorita torceu o tornozelo. Precisa enfaixá-lo, e ficar em repouso. Rodolfo a levou para casa. Ao verem Mayra com o pé enfaixado, seus pais se assustaram. Ficaram muito agradecidos ao rapaz que prometeu voltar para saber como ela estava passando. Bailarina, Mayra não se conformava pelo tempo em que teria de ficar imobilizada. Estava em treinamento intensivo para um grande espetáculo que estava sendo preparado, e seria apresentado no Teatro Solís em 25 de Agosto, na abertura da semana de comemorações da Independência Uruguaia. Findo o prazo do tratamento, seu tornozelo ainda inchado e dolorido, precisaria de muita fisioterapia para estar em dia dali a três meses. Rodolfo a levava para os exercícios a cada dois dias. Desde o dia do tombo de Mayra ele passou a se dedicar à jovem como se já a conhecesse, ou como se fosse ele o responsável pelo acontecido. Porém Rodolfo era noivo de Arianna que sofria com o que dizia ser um descaso para com ela.  Finalmente chegou o dia da apresentação. A abertura, com o corpo de baile do Teatro Solís foi sensacional. Mayra, dançou como nunca. Rodolfo e Arianna foram à apresentação. Ele aplaudia entusiasmado, enquanto que Arianna, visivelmente contrariada, não soltava seu braço.


Deomídio Macêdo

A relação entre Rodolfo e Arianna estava desgastada há algum tempo e naquela noite do espetáculo do corpo de ballet, apresentado no Teatro Solís, do qual Mayra era dançarina, piorou a situação entre o casal, quando ela percebeu o interesse do seu noivo por Mayra. O ciúme tomou conta do coração da jovem e quando Rodolfo a conduzia para casa, a moça vociferava com raiva e num impulso mais agressivo arrancou a aliança do dedo e lançou no peito do mancebo. Com aquela cena a moça encerrou o compromisso de noivado. Mayra continuava fazendo as suas apresentações no teatro Solís, mas Rodolfo nunca mais apareceu para prestigiá-la. Até que um dia, ela o enxerga, mais uma vez, sorridente na plateia, aplaudindo-a. Ao final do show, Rodolfo se aproxima da bailarina, beija a sua face e parabeniza pelo belíssimo trabalho realizado. Entre uma conversa e outra, o professor de educação física informa sobre o término do seu noivado. Com a maravilhosa notícia, Mayra o arrasta pela mão e o convida para ir com seus colegas ao Café Carlos Gardel. Em seguida, visitaram a fonte dos cadeados, considerada a fonte do amor, e ali naquele local mágico eles se beijaram. Um ano depois daquele encontro, já estavam casados e para completar a família nasceu uma linda menina. Alguns anos depois, Mayra estava grávida novamente. No quarto mês de gravidez, ao realizar a ultrassonografia, o doutor diagnosticou o feto com anencefalia. Aquela notícia foi um choque para o casal. Eles procuraram outra clínica e o resultado foi confirmado. O que fazer agora? Abortar? “Nem sempre podemos escolher a música que a vida toca, mas podemos escolher o jeito de dançar", com responsabilidade.



Alberto Vasconcelos

Abatidos pela fatídica notícia, foram rezar na matriz e em suas preces pediram à Padroeira Virgem da Assunção que a criança nascesse normal. Mas os exames eram conclusivos, havia a anencefalia e a opção adequada era o aborto conforme dissera o médico. Antes de voltarem para casa, resolveram passear no calçadão. Naquele mesmo calçadão aonde anos atrás um tombo durante a corrida unira suas vidas. Havia turbilhão em suas mentes depois da conversa que decidiu pelo aborto, afinal a má formação do feto é absolutamente irreversível. Diferente de suas mentes, as águas da bacia do Rio da Prata estavam serenas como um lago apesar das lufadas do vento pampeiro. Calados e esgotados sentaram-se num dos bancos do calçadão para observar os cachorros quando um deles, ao se soltar, veio enrodilhar-se aos pés de Mayra. O passeador de cães, chegou em seguida com mais seis animais e desmanchando-se em desculpas procurou recolocar a coleira no belo animal, mas ele permanecia enredado entre as pernas do casal. Mayra ficou de pé e o rapaz procurou tranquiliza-la dizendo que os animais eram dóceis e, continuando a falar disse: meu nome é Serafim e eu tenho um recado para lhes dar. Apesar do drama terrível que vocês estão vivendo, nada é impossível para aqueles que acreditam no poder da oração e na intercessão da Virgem dos Trinta e Três. O filho de vocês nascerá tão belo e forte quanto as flores dessa corticeira e num gesto, quase mágico, enquanto se afastava, entregou a Mayra a flor símbolo do país. Uma centelha de esperança iluminou os rostos do casal. Como aquele rapaz, que sumiu no meio do povo, sabia do problema deles? Há mais coisa entre o céu e a terra do que pode imaginar a nossa vã filosofia?



José Bueno Lima


“A fé vê o invisível, acredita no que é inacreditável e recebe o que é impossível”

(Martinho Lutero).

Mayra e Rodolfo estavam pasmos com o acontecido e combinaram de todos os dias irem à Igreja Padroeira Virgem de Assunção. E, assim procederam. Cada vez mais acreditavam nas palavras do desconhecido Serafim. A gestação de Mayra se desenrolou tranquilamente. Resolveu o casal evitar novas visitas ao ginecologista ou efetuar novos exames. A par de todas essas vicissitudes, apesar da jovem não ter condições de praticar a dança, Rodolfo progrediu financeiramente, pois como em toda parte, o Uruguai foi atacado pela febre das academias de ginásticas. Em pouco tempo ele conseguiu montar a sua e ainda, negociar, em forma de franquia, um bom número de congêneres. O tempo, que não tem freios, continuou correndo até chegar ao grande dia do parto. Mayra foi hospitalizada, houve parto normal, e nasceu um lindo menino, para alegria do casal, principalmente para Rodolfo. Perfeito, totalmente são. O caso, como era de se esperar, causou enorme repercussão em todo o país e na mídia internacional. Tão grande foi o assédio, que eles foram obrigados a transferir a residência para um destino ignorado até as coisas se acalmarem. Bem situado financeiramente, o casal resolveu cumprir uma promessa que fez após a predição de Serafim, de constituir uma fundação, com fins de auxiliar de todas maneiras possíveis, parturientes com problemas durante o período pré-natal, de modo especial, as que não tinham condições financeiras. E chamaram a instituição, de Fundação Anjo Serafim, o de seis asas e o que mais perto está de Deus.


terça-feira, 12 de janeiro de 2021

VIDA NA AREIA



 VIDA NA AREIA

Alberto Vasconcelos  

 



A brisa morna do fim da tarde fazia com que as folhas do coqueiro parecessem mãos agitadas se despedindo de mais um dia. O sol num ocaso breve, fez com que os contornos da paisagem se perdessem na escuridão da noite enquanto aguardava o clarão da lua, as ondas revoltas espraiavam algas sobre a areia que ainda guardava um pouco do calor do dia que se fora. Nesses momentos a saudade se tornava mais cruel, a dor opressiva no peito parecia desmanchar as fibras do coração e o pescador, mais uma vez, lamentava seu jeito de ser. Teria sido mesmo tudo verdade? Será que os acontecimentos não foram alterados pela língua ferina do povo? Quantas vezes ele ouvira histórias que nem de longe eram verdadeiras? Um caminho de luz brilhante azulada ligou seus pés calejados ao horizonte onde, esplendorosa a lua surgia por entre as grossas nuvens. Sem dúvida haveria chuva forte. O caniço fincado na areia deu sinal de que algo estava fisgado. Instintivamente, travou o molinete e começou a recolher a linha. Agora, o mundo a sua volta perdera importância, suas lembranças foram colocadas nas prateleiras da memória. Havia pressa. O que estava fisgado, não importando o que fosse, precisava ser trazido para a praia, para ser vendido se tivesse algum valor, para seu sustento ou para ser devolvido ao mar, se a ele pertencesse. Quantas coisas podem se prender ao anzol arremessado? E dessas coisas, quantas precisam ser devolvidas ao reino das águas para o bem de todos, para acalmar os elementos e aliviar a dor que tanto maltrata? Quem poderia dizer a quantas formas de vida nos ligam outras linhas diferentes dessa que o forçava a pisar na espuma branca?


J. B. Lima




A emoção da puxada da linha é muito forte. O pescador sente um frenesi em seu peito, tal como o artilheiro na hora do gol, no futebol! É uma emoção tão grande, que ele sente a falta de uma grande plateia quando o fruto de sua habilidade chega à luz. Aí as testemunhas explodem em diversas maneiras: como o peixe é grande, que peixe é, que sorte, que habilidade, parabéns. E sempre é bom haver assistência razoável, para comprovar o feito do pescador. Por falar nisso, de modo geral, a fama do pescador é de que ele floreia demais ao contar seus causos, aumenta em demasia o tamanho, a espécie, chegando a ser taxado como mentiroso. Sobre isso, há uma historinha muito interessante. Um pescador tinha a fama de sempre contar casos extravagantes na cidade em que morava. Era tido como o maior mentiroso. Em determinada pescaria, como sempre, ele gostava de se exibir, mostrando seu arsenal de munição. Estava em um rio de uns cinquenta metros de largura. Na margem do outro lado, estava um caboclo morador das redondezas. Vendo o modo todo fantasioso do pescador, resolveu aprontar uma. Muito arisco, viu um cágado por perto, foi fácil pegá-lo. Com rapidez tirou a roupa e mergulhou no rio, procurou, achou o anzol da vítima e fisgou no mesmo, o animal. O pescador, sentindo a puxada, logo travou a carretilha e trouxe a linhada todo cheio de trejeitos, com a presa. O caboclo logo chegou ao seu lado, e cumprimentando-o, deu-lhe os parabéns por ter “pescado” algo inesperado. Nunca tinha visto coisa igual. Ele, com toda empáfia, virou para o caboclo, dizendo com a maior cara de pau, que aquele era o terceiro cágado que pegara naquele dia.


Cléa Magnani




A areia que serve como piso para o mar e para os rios, é composta por grãos de rochas e pedras “surradas” pelo movimento incessante das águas das ondas e das cachoeiras. Assim como os grãos não são iguais, as histórias que a areia encerra, também não o são. Quantas piadas de pescador as areias já ouviram? Quantas lágrimas já umedeceram seus grãos? Jovino, com os olhos perdidos no vai e vem das ondas, passava a limpo sua vidinha besta: Desde que perdera seu pai, que saiu com sua jangada para pescar, e que, como na canção de Caymmi. “a jangada voltou só”, sua vida era só cuidar da mãe e dos irmãos. Perdeu Raimundo, seu maior amigo por uma bobagem, e o movimento do braço por causa da briga, quando Raimundo o feriu com a faca. E agora diziam que Marina, o seu sonho, estava se engraçando com Raimundo... Êta vida miserável! ... Absorto em suas reflexões nem percebeu que a noite já caía, quando algo moveu a vara. Parecia ser algo pesado, mas que não lutava para escapar. Se movia ao sabor das ondas, envergava o caniço, mas não cedia... A claridade da lua que cheia, fazia a maré subir, permitia que ele visse o movimento da linhada; mas “a coisa” não aparecia à flor d’água. Uma nuvem ocultou o luar, e um relâmpago coriscou o céu, clareando a escuridão, seguido de um tonitruante trovão que tocava os clarins para a tempestade que se aproximava. Jovino ainda tentava tirar aquilo das águas agora revoltas, enquanto grossas gotas de chuva castigavam a paisagem, estalando na areia e doendo na pele. A única solução para não perder a linha e o anzol, seria amarrar o caniço num dos coqueiros da orla. Amarrou e correu para casa. Na manhã seguinte, com a maré baixa, dava para ver a linha enterrada na areia, Jovino cavou e encontrou uma caixa de madeira presa ao seu anzol...


Deomídio Macêdo




A pá e alguns embornais que trouxera de casa foram deixados na areia molhada que não oferecia resistência às mãos calejadas pelas durezas que a vida lhe proporcionou. Com o esforço sentia dores no braço atrofiado, mas não podia parar pela ânsia de ver o que continha aquela caixa de tampa abobadada com pouco mais de dois palmos de tamanho. A sua plateia, numa torcida frenética, fazia o maior alvoroço. Eram as gaivotas que bailavam ao bel-prazer do vento. Quando a caixa ficou totalmente liberada, surgiu um grande cadeado carcomido pela salinização das águas marítimas e um símbolo com um letreiro que o pescador não compreendia. A única ferramenta que tinha para abrir o cadeado era a sua pá, então levantou-a ao ar e aplicou um golpe na fechadura insensível, que continuava guardando o segredo do bauzinho. O tilintar da pá no cadeado espantou as gaivotas que repousavam na areia testemunhando aquela cena, que parecia uma história inventada por pescadores. Após algumas pancadas mais fortes, o cadeado cede, alegrando Jovino que o retira com rapidez. Pouco tempo depois a caixa escancarou para aquele homem simples, um tesouro com diversas moedas de ouro e pedras preciosas. Naturalmente as ondas marítimas trouxeram aquele tesouro de alguma embarcação naufragada no século 18, pois o Brasil era rota de navios comerciais. Jovino não acreditava no que estava vendo. Pulava igual a uma criança, corria atrás das gaivotas, rolava na areia. Com a respiração ofegante dividiu sua riqueza pelos quatro embornais e levou para casa, mas teve o cuidado de tapar o buraco para que o pequeno baú não fosse visto por mais ninguém. Pensou: estou rico. Mas como justificar a riqueza, o que diz a Lei de tesouros achados?


Alberto Vasconcelos




Jovino era analfabeto, mas não era tolo e guardou absoluto segredo sobre o seu achado, pois sabia que se a notícia se espalhasse, iriam aparecer milhares de amigos e as autoridades iriam confiscar tudo. A melhor coisa a ser feita era ir-se embora daquela praia, como fizeram os seus irmãos. A mãe, sempre falava das belezas do Serrado e do desejo de voltar à terra em que nascera. Estava na hora de realizar o sonho que a velha acalentara por toda a vida. Na mesma semana, despediu-se dos outros pescadores dizendo-se cansado daquela vida de penúria, que iria com a sua família tentar a vida no pantanal, onde a pesca é mais fácil que no mar. Para mostrar que não guardava rancor de ninguém, deixou para Raimundo, seu desafeto, a jangada que pertencera ao seu pai e sem se despedir, deixou para trás Marina e o amor que sentia por ela. Junto com três dos irmãos e a mãe instalou-se no terreno que comprou de antigo tropeiro sem parentes. Jovino fez questão que nhô Tião permanecesse com eles, pois sentia por ele um carinho quase filial. Aproveitando-se dos conhecimentos do velho, construiu a pousada Ninhal das Araras onde os dias transcorrem amenos. Pisando descalço as areias finas das praias ribeirinhas, leva os hóspedes para pescar ou fotografar os animais em vida livre e quando o negrume da noite faz resplandecer as estrelas ou a lua cheia pinta de prateado as águas do Taquari, sentados nos bancos rústicos do lajeado em torno da fogueira, hóspedes e residentes ouvem as arrepiantes histórias das comitivas assombradas pelas estradas narradas por nhô Tião ou se falam nos causos de caçadas, das pescarias, dos cágados e baús de tesouros, todos “verdadeiros” enquanto saboreiam o caldo de piranha, especialidade pantaneira, preparado pela cabocla Moema, seu verdadeiro e fiel amor.       




                                     


                                                    



segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

VILA MADALENA


                             
                              E S C R I B A S


VILA MADALENA


                                 


- José Bueno Lima

Não é o local mais bonito de São Paulo, mas tem um charme que lhe faz ser um dos bairros da capital paulista de maior procura pela população. Suas atrações são o comércio grande de lojas de decoração, móveis antigos, artesanato geralmente produzidos pelos chamados “hippies”, como acessórios femininos, brincos, anéis, colares e pulseiras. Há também, muitos ateliês de artistas plásticos, pintores e escultores. Muros decorados. Entretanto, se destaca pela infinidade de estabelecimentos ligados à gastronomia, bares, botecos, lanchonetes e um sem número de restaurantes de todos os tipos de comida, regionais e estrangeiras. Nesse cenário é que Zuleica, uma bielo-russa trintona, bonita, esbelta, figura assídua do Astor, um dos bares-restaurante mais famosos da Vila, que ela frequentava, sempre disposta a encontrar um bom papo. Sexta-feira, sentada em sua mesa preferida e reservada, com o gim-tônica costumeiro à sua frente, de onde tinha uma visão geral de quem entrava e saia, volta e meia focalizava a frase do poetinha Vinicius, posta numa coluna, que afirmava ser “o whisky o melhor amigo do homem, o cachorro engarrafado.” E sorria. Eis que, quando já estava ficando desiludida, adentram o recinto três cavalheiros bem-apessoados, também na faixa dos trinta, e se acomodam em uma mesa próxima de Zuleica. Não foi difícil a rápida ligação do grupo com a moça. Eram três argentinos alegres que vieram a São Paulo assistir ao jogo de futebol entre o Corinthians e o Boca Juniors que aconteceria no domingo, na Arena de Itaquera. Diego, 32 anos, Juan Carlo 31, e Martino, 30. Todos ligados a indústria vinícola. Moravam em Mendoza, a capital do vinho na Argentina, e vieram ao Astor recomendados por amigos mendozitos*. Zuleica chamou o Pacheco, seu garçom preferido.



Cléa Magnani 

Como frequentadora do comércio da Vila, Zuleica conhecia uma loja de artigos esotéricos cuja proprietária, com seu bom gosto fizera do pequeno espaço onde expunha cristais, pedras para todos os fins, incensos, etc., atrás de uma cortina grená, o seu minúsculo consultório, onde realizava os sonhos ou os desfazia por completo, ao revelar passados e futuros. Naquela semana Zuleica havia desfeito uma relação que não vinha sendo satisfatória para ambos, e resolveu adivinhar o que o Futuro lhe reservava. Entrou na simpática lojinha, um tanto desanimada com o fim do romance, e saiu dali cheia de esperanças, pois a vidente lhe previu um encontro que modificaria definitivamente a sua vida. Porém ela teria de fazer uma escolha bastante difícil, e dessa escolha estaria definida a sua felicidade ou o seu desencanto. Aquelas palavras não lhe saíram da mente pelo resto da semana. Já não se lembrava mais do seu ex. Estava ávida por vida nova! Sexta-feira à noite Zuleica decidiu recomeçar sua vida! Arrumou-se com muito bom gosto, prendeu os longos cabelos de modo a deixar uma mecha, marota a brincar sobre seu olhar bem maquiado, e dirigiu-se ao barzinho que costumava frequentar com seus amigos. Mas diferentemente do que era costume, foi sozinha, e agora se encontrava ali, conversando animadamente em “portunhol” com aqueles três atraentes rapazes que se mostravam tão simpáticos, quando Pacheco atendeu à mesa e perguntou se ela iria querer o mesmo de sempre. Martino, mostrou-se surpreso, e disse sorrindo: “¿Entonces nuestra hermosa amiga siempre viene aca?" Zuleica, respondeu que sim, E ao serem servidos, quando brindaram à nova amizade, Zuleica ergueu seu costumeiro gin-tônica, que lhe deixou na boca um sabor diferente, de suspense, de surpresa, de emoção e ternura... ao beberem, ela notou que Diego a fitava em silêncio, como a querer adivinhar seus pensamentos...
Deomídio Macedo 

Zuleica aceitou o convite de Diego, Juan Carlo e Martino para ficar com eles à mesa. O garçom Pacheco acompanhou a sua amiga até os rapazes. Imediatamente, como um verdadeiro cavalheiro, Diego se levantou, deu boas vindas, puxou a cadeira que estava ao seu lado e pediu a moça para sentar-se. Apresentou os seus amigos e beijando a mão de Zuleica falou o seu nome, bem galanteador e sorridente. O seu olhar naquele momento fixou o olhar daquela linda mulher e Zuleica sentiu uma energia sacudindo todo o seu corpo, vibrando em seu coração. Diego, o mais extrovertido e interessado na jovem, puxou logo a conversa, dizendo que estavam ali para assistirem ao jogo de futebol entre o Corinthians e o Boca Juniors, que acontecerá no domingo, na Arena de Itaquera. Zuleica ficou muito feliz com aquela notícia, porque ela como torcedora fanática do Corinthians, não poderia perder a grande oportunidade de assistir a um belíssimo jogo e também, conquistar o jovem Diego. Ele ficou encantado com aquela informação e sem pestanejar fez o convite a ela para assistir à partida de futebol com eles, o que ela aceitou imediatamente. No Bar Astor, o ambiente estava propício para se namorar. A música era suave, e como boa dançarina, Zuleica não pensou duas vezes, e convidou o seu cupido para dançar. O Bar Astor reserva um espaço para os casais que queiram bailar. Diego se esquivou porque a praia dele é o tango. Mas, pela insistência da moça não teve outro jeito. Eles começaram a dançar, suavemente, ao som da música “Café da Manhã” de Roberto Carlos. A proporção que a música descrevia a cena de amor que o cantor sensivelmente compôs, Zuleica sentiu a respiração do rapaz em seu ouvido e arrepiou-se. A boca de Diego foi se aproximando lentamente dos seus lábios e o beijo aconteceu selando aquele encontro no Bar Astor.
Alberto Vasconcelos 

Mas o mar sem ondas dos dias atuais eram fruto da perseverança do amor. Seis meses depois daquela noite no Astor, Diego e Zuleica casaram na igrejinha do bairro, sendo Pacheco o padrinho dela. Mudaram para Mendonza, mas por desentendimento com o patriarca da família, o casal, ainda sem filhos mudou para Buenos Aires aonde imaginavam haver maiores oportunidades. Sem dinheiro e sem emprego, alugaram um quarto barato num conventillo* em La Boca. A vida desregrada dos atuais vizinhos só aumentava a saudade que Zuleica sentia da sua querida Vila Madalena, mas o amor que os unia, fazia com que ela, diariamente enfrentasse a tediosa caça aos turistas como dançarina de tango, pelas ruas do Caminito a fim de ganhar alguns pesos. Diego, como antigo fornecedor de vinhos, conseguiu emprego como sommelier na casa de espetáculos Señor Tango, mas seus ganhos estavam limitados à ínfima comissão sobre as vendas dos vinhos que os clientes comprassem para levar. Zuleica insistia para voltarem para o Brasil, aonde as chances de sucesso eram maiores e não passariam fome nem frio, mas Diego não admitia voltar derrotado pelo destino. Com a morte do patriarca, a matrona da família mandou busca-los para que Diego assumisse a direção dos negócios da família. Agora o que afligia o casal era a falta de filhos. Zuleica não engravidava e Diego se recusava a fazer espermograma. Na solidão do quarto, o casal discutiu e se acusou mais uma vez, mas na manhã seguinte, dona Mercedes sentenciou. Aprontem-se, porque nós iremos buscar a criança que vocês vão adotar. No final da semana seguinte ocorreu o batizado de Pablito. *Pensão barata.
José Bueno Lima 


Sem dúvida, a vida do casal melhorou. Pablito se tornou um menino muito ajuizado, inteligente, ia bem na escola, de modo que Zuleica e Diego passaram a se entender; a vinícola prosseguia crescendo, seu vinho já participava de concursos e ganhou alguns prêmios de qualidade. Esse clima contribuiu para Zuleica, que nunca perdera a esperança, vir a engravidar. Foi o clímax da felicidade do casal. Logo o rebento veio à luz, num procedimento sem qualquer tipo de problema. Diego Jr., como foi chamado, e logo tratado como Dieguito, se tornou a coqueluche da família. Quando completou dez anos, a avó Mercedes veio a falecer. Zuleica e Diego, a fim de melhor enfrentar a perda da matrona, resolveram, pela primeira vez após o casamento, ir a São Paulo. Ela sentiu a maior felicidade em rever, depois de tanto tempo, sua cidade predileta. Foram a todos os lugares em que estiveram durante o namoro, e em determinada noite, deixando as crianças com a babá no hotel, foram ao Astor. Incrível, o Pacheco ainda trabalhava lá. O encontro foi uma festa. Logo ele trouxe o gim-tônica para Zuleica e o vinho para Diego. Aproveitando a ausência dos filhos, após o jantar, foram a um motel para finalizar aquela noite maravilhosa e inesquecível. Decorridos sete dias de plena felicidade, voltaram para Mendoza, para continuar a tocar a vida que tanto almejaram. Dessa vez, a cigana não enganou!

UM CONTO DE NATAL





CONTO DE NATAL



Alberto Vasconcelos

Graças à maravilha eletrônica dos grupos sociais, podemos afirmar que nos tornamos amigos de infância daqueles colegas que estão sempre interagindo conosco e pensando assim, resolvemos fazer nossa confraternização. Sabe como é escritor, né? Sentados na sala de visitas da casa da colega Cléa, depois de saborearmos as monumentais rabanadas que ela havia preparado, os comentários sobre os natais passados e futuros foram surgindo naturalmente, então lembrei-me de história antiga, verídica até que se prove em contrário, acontecida no final dos anos 1800. Foi assim:

A CAIXA DO NATAL

O frio cortante naquela tarde de 24 de dezembro não permitia que os habitantes do vilarejo saíssem de suas casas, aquecidas pelas lareiras em cujas cornijas são penduradas as meias para secar e onde o papai Noel coloca os presentes, tão ansiosamente esperados pelos miúdos das famílias. Vó Maria mandou que Serafim, o neto mais velho, fosse até o paiol buscar mais lenha para alimentar o fogo aproveitando a tênue luz que ainda havia lá fora. Enquanto apanhava a lenha, Serafim ouviu um estalo forte e parte do teto arriando por causa do peso da neve acumulada. A coluna central estava rachada e caso não fosse reforçada com urgência todo material acumulado no paiol estaria perdido. Da porta gritou por Manuel, seu irmão menor que viesse auxiliar enquanto colocava a escada pelo lado de fora para o irmão, bem mais leve que ele, por cima do telhado deslocasse a neve acumulada para aliviar o peso sobre toda estrutura e foi para o fundo do paiol procurar uma estronca para fazer o reforço da coluna avariada.

Deslocou a tábua do piso para fincar a estronca diretamente no terreno de cascalho, mas algo lhe chamou a atenção. Havia uma caixa de madeira, com um presépio entalhado na tampa. Concluído o serviço, os irmãos voltaram para a sala da casa e abriram a caixa colocada sobre a mesa. Em pequenas garrafinhas, havia mirra, benjoim e azeite aromático, um saquinho de couro contendo o dobrão* de ouro e, amarrado com fita vermelha, que se desfez com o toque das mãos calejadas de Serafim, um pergaminho escrito pelo vô Antônio, que foi o bisavô do seu bisavô, pedindo, em formato de oração, que sempre houvesse paz e união na família que ele, em todo natal, com a família reunida louvaria o nascimento de Jesus, conforme descrito em Lucas 1:30 a 38 e em 2:7 e de 11 a 14. Parece que até hoje a família faz questão de cumprir o que foi prometido.

* Dobrão, moeda portuguesa que circulou durante o reinado de Dom João V -1707/50




Cléa Magnani

PAPAI NOEL EXISTE?

Josué e Marieta, chegaram à Cidade sede do Município vindos de uma fazenda onde viviam com seus cinco filhos: João, com 12 anos, Rosinha, com 10, Luiza de 8, Paulo com 6 e Pedro de 4 anos. A "escadinha" estava crescendo, precisava ir à escola, o trabalho, devido à seca de dois anos seguidos, acabou com a lavoura e o pasto também. Só Josué trabalhando na roça, pois João era muito fraquinho, e tinha uns ataques que o prostrava ou o faziam cair de repente em convulsão, e se estivesse perto do fogo, ou de algum rio ou lagoa, poderia se ferir gravemente ou até perder a vida. Havia dois anos que Josué fora picado por uma jararaca, ao revirar uma leira de mato cortado para secá-lo. A cobra, puxada pelo ancinho, caiu sobre a perna de Josué e o picou na altura do joelho.  Um amigo fez um torniquete para que o veneno não se esparramasse, cortou o local da picada em cruz, sugou o sangue envenenado e lavou a boca com pinga para desinfetar, Josué não morreu, mas o pouco de veneno que havia se espalhado na circulação, foi o bastante para que ele ficasse sofrendo dos rins irremediavelmente. Então resolveram se mudar para um lugar com mais recursos. E assim se fez. Chegaram na cidade, em dezembro, com o dinheiro da venda de uma parelha de mulas, uma vaca, 4 leitões e algumas galinhas, alugaram uma casinha pequena, com poço e uma “casinha” do lado de fora onde havia uma latrina e um chuveiro de lata de querosene. Dormiam todos no único quarto da casa, o fogão era de lenha e a luz era de lampião e lamparina. Mas se precisassem socorro, tinha a Santa Casa. Tinha grupo escolar para as crianças. E como Josué não conseguisse mais trabalhar tal era seu estado de fraqueza, Marieta começou a lavar roupas para fora, mesmo com a água sendo tirada do poço com um sarilho. E como ela era muito caprichosa, a freguesia estava crescendo. Mesmo sem tempo nem lugar para fazer roça para o consumo da família, com o que ela recebia, dava para comprar o básico, e ter um viveiro no fundo do quintal, com algumas galinhas, e ovos nunca faltaram. Mas na cidade as crianças ouviram falar em Natal, Papai Noel, Festas de Fim de Ano, Ceia, Presentes...  E vieram perguntar para Marieta o que eram aquelas palavras. Marieta disfarçou, enxugou uma lágrima que teimava em rolar pelo seu rosto magro e judiado pelo trabalho pesado, e os mandou irem brincar no quintal... Ao lado da casa, havia um terreno baldio, onde jogavam o lixo do Cartório, que ficava do outro lado da rua. Havia muitos papéis usados de um lado só... ou enrolados nos cilindros que eram usados nas máquinas de escrever. João, Rosinha, Luiza e Paulo, que estavam na Escola, começaram a recolher os papéis para usá-los com cadernos. Repentinamente João deu um grito, pegou um pacote de folhas em branco enroladas e presas com uma fita e ao desenrolá-las, encontrou uma cédula de 500 Mil Réis, que dava para comprar uma casa ou um terreno, enrolada no cilindro de papelão entre as 4 últimas voltas do final do papel...

Ao ver do que se tratava, Marieta quis dar um castigo em João pensando que ele houvesse roubado o dinheiro. Mas depois dos testemunhos de Rosinha, Luzia e Paulo, Marieta ajoelhou-se ao lado da cama de Josué e em lágrimas de gratidão repetia: -

- Josué! Papai Noel EXISTE!!!!  Papai Noel EXISTE!!!!

 


Deomídio Macêdo

Ao tocar a campainha da residência da amiga Cléa, na capital de São Paulo, me senti emocionado ao receber o seu abraço aconchegante, dando-me boas-vindas, com aquele sorriso fantástico no rosto. Ao entrar na casa, logo percebi o amigo Alberto, que já se sentia à vontade, sentado no sofá, rodeado por almofadas acolchoadas, degustando vinho Botticelli tinto. Ele dialogava sorridente, colocando o papo em dia com o confrade Lima, pois eles haviam chegado ao mesmo tempo para a nossa reunião. Abracei fortemente cada um deles, sentindo suas energias salutares. Observei mais uma vez a sala e lá estava esbelta a árvore de natal recheada de bolas e luzes que piscavam. Imediatamente coloquei o pacote natalino junto à árvore de natal para fazermos a troca de presentes mais tarde. O gato preto de olhos esverdeados, que Cléa tanto ama, se espreguiçava à vontade no piso decorado da sala de estar. A dona da casa, nossa amiga é musicista e artista plástica, por isso seu acordeom repousava elegantemente junto à árvore de natal. Suas obras de artes, pinturas, embelezavam as paredes da residência acolhedora. Iniciei o meu conto retratando a ceia de natal no interior.

 

OS NATAIS DE DONA LINDAURA

 

Dona Lindaura era uma mãe dedicada aos seus cinco filhos. Em frente da sua residência tinha um murinho branco com alguns orifícios quadrados, dando para perceber um jardim com algumas plantas, principalmente roseiras, desabrochando lindas flores, alegrando aquele singelo lar. Logo mais adiante, uma área com algumas cadeiras, local em que a família recebia as visitas e se reunia para conversar com os filhos. Daquele local dava para perceber algumas galinhas ciscando com seus pintinhos, procurando alimentos, fazendo a maior algazarra. Os cachorros em brincadeiras constantes rolavam na areia e muitas vezes corriam latindo para alguns transeuntes. Sobre uma mesa na sala de estar um rádio de mesa de marca ABC, transmitia as notícias da Rádio Globo do Rio de Janeiro, bem como, as canções que invadiam o ambiente alegrando toda a família. Na cozinha, as panelas de alumínio brilhavam e o majestoso fogão a lenha, avermelhado, tinha a missão de cozinhar os alimentos colocados nas panelas de barro, panelas preferidas da dona de casa. Sobre o fogão ficava um paninho para limpar as gorduras que teimavam saltar das panelas borbulhantes.  Aproximadamente às vinte e duas horas, a senhora corria para abastecer e acender os candeeiros, pois, naquele horário o motor que fornecia a luz para a pequena cidade de Guanambi – BA, seria desligado. No dia 25 de dezembro D. Lindaura e seu esposo colocavam uma mesa maior na área, com alguns candeeiros acesos que iluminavam a ceia de natal. No horário específico faziam uma prece fervorosa, contavam a história do nascimento de Jesus para os filhos e observando o céu salpicado de estrelas agradeciam a Deus pela família e pela vida.





José Bueno Lima

 A BOLA DE FUTEBOL

Chegamos eu e Alberto, uns dez minutos antes de Deomídio à casa de Cléa. Juntos porque somos da mesma cidade, aqui pertinho do Sacomã, Santo André, onde nasci, e ainda vivo, e Alberto por ser ele, como o próprio se diz, “um paulista emprestado”, também vive! Fiquei embasbacado com o bom-gosto de nossa anfitriã, na decoração natalina, em sua sala ampla e com ótimo design. Estando o grupo formado, iniciamos aquela gostosa conversa de um primeiro encontro. Comentei com Cléa, que o Sacomã faz parte de minha memória desde a mocidade, porque sempre que vinha a São Paulo, ao passar por esse antigo bairro, na volta, perto da entrada da Via Anchieta, existia uma enorme lagoa, onde muitas crianças e, até adultos, morreram por afogamento. A população, lembro-me bem, colocou uma placa em lugar visível, dizendo “até quando essa lagoa maldita, ceifará a vida de nossas crianças? ”. Cada um, classificados no dizer Leonardo Padura, em seu livro Águas Por Todos os Lados, “não escritores de um país, mas de uma cidade”, contamos nossas aventuras e desventuras como escritoresE, exercendo a capacidade de contar, nos brindamos com causos natalinos. Coube-me ser o último a narrar um dos meus natais. Faço parte de uma família de classe média, e nossos natais sempre foram comemorados com ceia, entrega de presentes, entre meus pais, irmãos, alguns tios, minha nona Filomena, italiana da Calábria, mais ou menos umas vinte pessoas. Sempre com muita alegria. Um Natal que me marcou, com nove anos de idade, o Papai-Noel tendo chegado, eu nessa altura, já estava no maior dos sonos, deitado na sala. Não comi, e nem vi os presentes. Ali permaneci. Ao acordar no dia seguinte, me espantei, e com grande alegria, por já ser um fanático por futebol, me vi abraçado a uma bola oficial. Simples, mas minha felicidade foi indescritível. Nunca mais esqueci.

Todos felizes por nos termos conhecido pessoalmente, e passadas horas muito agradáveis, era chegado o momento das despedidas. Alberto, como coordenador da equipe, usando de sua admirável memória, declamou um causo em forma de poesia.

Abraços, sorrisos, algumas lágrimas e um até breve, foram as últimas manifestações desse grupo de escritores. O Grupo5.




 








 

domingo, 27 de dezembro de 2020

Biografias dos escritores(a) ESCRIBAS



Alberto Vasconcelos, natural do Recife/PE, nascido em 28/08/1944, é Bacharel em Ciências Biológicas (com especialização em Comportamento Animal), aposentado, casado com Márcia Adriana Barboza (Pedagoga) reside atualmente em Santo André/SP. Faz parte dos sites Recanto das Letras desde 2008 e do Gandavos – Os Contadores de Histórias desde 2013 com participação em sete edições de coletâneas de contos. Participa dos saraus – Cafezinho Literário da APM (Associação Paulista de Medicina) /Santo André/SP e do Sarau Amor e Esperança – Secretaria de Cultura de Guarulhos/SP.





 

Cléa Magnani - Paulistana - formação Pedagogia incompleta  - livros editados:

- DO OUTRO LADO DA RUA (conto);

- FAÇA O QUE SEU MÉDICO DIZ, NÃO FAÇA O QUE EU FIZ. (Vivência sobre os cuidados com meu marido com Alzheimer) esse livro foi adotado por uma cadeia de Casas de Repouso para os familiares de pacientes. 

- 4 antologias com contos diversos. Uma Aprendiz da Vida.             

O que mais gosto:                                

Minhas três netas - estar com a família - escrever – pintar - tocar Acordeom - fotografar flores - fazer casinhas em argila - meus três gatos.






Deomídio Neves de Macêdo Neto, natural de Guanambi - BA, nascido em 26-05-1961, ator DRT nº 2274/2000, inscrito no Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado da Bahia. Administrador; especializado Lato Sensu MBA em Gestão Pública - Desenvolvimento e Economia Regional pela Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia - FUNDACE.

Casado com Dinalva Macêdo

Filhos: Danielle, Francielle, Gabriel

Netos: Maria Cecília e Daniel


Diretor de Comunicação Social WEB – Confraria Artistas e Poetas pela Paz - CAPPAZ

Ator / poeta / declamador / escritor / músico/clarinetista.

Livros publicados: Homem Nu Vestido de afeto ( Romance);

Natureza, Divino Amor (Poemas);

Alameda do Bosque Azul (romance inspirado pelo espírito Américo Zier)

Vidas entrelaçadas (Romance inspirado pelo espírito Américo Zier)

Membro da Academia de Letras Brasil / Suíça.

Sócio Correspondente da Academia Guanambiense de Letras.

Participa do site Recanto das Letras - 14-11-2008;

Declama poemas no Sarau Amor e Esperança - Secretaria de Cultura da cidade de Guarulhos - SP.







José Bueno Lima, viúvo, nascido em Santo André, 83 anos, advogado, procurador judicial da PM de São Bernardo do Campo, tendo exercido diversos cargos em SBC e SA, escritor, membro da ACADEMIA DE LETRAS DA GRANDE SÃO PAULO, 4 livros publicados.





sábado, 26 de dezembro de 2020

O AVIADOR

 


                           E S C R I B A S



AVIADOR


* Marcos Júnior - Personagem principal

* Adélia - mãe de Marcos

* Cidade de Alfenas – MG

* Ano 1980

* Aristides – colega de Marcos Jr.

* Ludmila – esposa de Aristides

* Rute – esposa de Marcos

* Aninha – filha de Marcos





(Deomídio Macêdo)


No dia 15 de novembro de 1980, sábado, uma forte chuva debruçava sobre a cidade de Alfenas – MG, enquanto isso, o menino Marcos Júnior, de dez anos, recortava de uma revista, várias figuras de aviões, que são extraídas delicadamente do papel, como se elas decolassem na imaginação do piloto infantil, e assim, mais um quadro se completava no acervo criado pelo pequeno pesquisador. A chuva cessou, e alguns lampejos de raios solares, começavam a aparecer timidamente, entre as nuvens que ainda pairavam sobre a cidade. O vento invadiu a casa e num movimento leve, rolava a bola com marcas de pés enlameados, para perto de alguns brinquedos sujos de barro. Aquelas marcas denunciavam que Juninho brincou com eles no momento do temporal. O bafejo da brisa anunciava a aragem e nessa condição climática, Adélia aproveitava para lavar as roupas dos seus fregueses no tanque rodeado por plantas frutíferas, que ofereciam sombras para amenizar o calor em dia de sol. Apesar do trabalho árduo, que era a única renda familiar, lá estava a dona de casa, esfregando as roupas, com suas mãos ensaboadas. Por um instante, ela levanta o olhar e observa seu filho deitado no chão do alpendre, quase a dialogar com uma nuvem brincalhona, que ao respingar no seu rosto, lhe traz uma ideia genial. Juninho num salto de alegria correu para o interior da residência, retira uma folha de um caderno usado, que estava sobre a mesa, e ali mesmo arquiteta com todos os detalhes, e conhecimento de causa, um aviãozinho que ao ser lançado no espaço da residência, voou espetacularmente pelos cômodos, arrancando um sorriso do rosto do garoto que sonhava ser um aviador.




  (Alberto Vasconcelos)


15 de novembro de 1990. Sete horas da manhã. Pelotão de aviadores em formatura no pátio da Base Aérea de Anápolis. Diante do major Brigadeiro do Ar, a turma 14 Bis, desfilava para integrar oficialmente o grupamento de aviadores de caça da Força Aérea Brasileira, pois chegara ao fim os preparativos, as infindáveis aulas de mecânica, de voo, de artilharia, de meteorologia... Momentos antes, diante da corporação, a mãe emocionada e com mãos trêmulas, afivelou as asas no peito esquerdo do seu filho, o Aspirante Marcos Jr. Era o início da realização do sonho alimentado desde a mais tenra infância de se lançar no vazio do espaço e com velocidade bem maior que a do som, esquadrinhar os céus em defesa da pátria. Voo de rotina, simulação de abordagem, exercício de tiro passaram a fazer parte do dia a dia até que numa noite soou o sinal de emergência dentro do alojamento. Em poucos minutos o Ten. Marcos Jr. estava afivelado ao coque pit do seu Gripen com os motores ligados aguardando a ordem para decolar. Algo muito estranho estava se deslocando em altíssima velocidade e em baixa altitude. Pelos informes, aquele objeto não correspondia a nenhum outro já descrito. A voz seca do controlador de voo soou forte em seus ouvidos – VAI. Liberados dos freios, o avião se lançou no vazio da noite escura. Coordenadas ajustadas, o painel de controle com as luzes intermitentes passava os informes necessários para um perfeito controle da aeronave. De repente, tudo cessou. O painel ficou às escuras. Sem bússola. Sem horizonte. Sem altímetro. Do rádio apenas os estalidos da estática e o zumbido do motor indicando a perda de empuxo. Ao longe, apenas um ponto azul em movimento pendular... 




(José Bueno Lima)


Voltemos ao passado. O menino Marcos Jr. durante toda a sua meninice manteve o sonho de se tornar aviador, como já visto. Cursou o primário, o ginasial e depois prestou ingresso na Base Aérea de Anápolis. Sua passagem como acadêmico naquela instituição militar foi brilhante. Sempre o melhor aluno. Isso motivou-o a ter amigos admiradores entre seus colegas, como também, alguns invejosos. Na vida social de Anápolis, a cidade mantinha suas tradicionais festas, de debutantes, aniversários de 15 anos das garotas da sociedade, e outras que o clube da elite anapolense promovia. E sempre haviam os convites para os cadetes dar maior brilhantismo aos eventos, devido aos uniformes, assaz bonitos. Marcos Jr. sempre era requisitado para ser par, seja de uma debutante ou de uma aniversariante. Aristides, um de seus colegas, era daqueles invejosos, porque Marcos Jr. se sobressaia, dado ser bem-apanhado fisicamente, além de tudo. Essa inveja, o levou a ser inimigo figadal do colega. Sempre que podia, aprontava alguma safadeza para Marcos. Estamos agora nos dias atuais. Naquela noite, em que houve o chamado urgente para a missão de averiguar a existência de um objeto não identificado, Aristides tentou, de modo sorrateiro, através de manipulação indevida de fios de controle da aeronave, provocar um acidente, vitimando o colega. Marcos Jr. viu-se em situação de extremo perigo, mas não perdeu a calma. Aprendera, durante o curso, e nos voos treinos, após a formatura, como sair dessas situações. Em poucos segundos conseguiu repor as ligações em seus devidos lugares, dando continuidade normal ao voo. Mesmo porque, se não desse certo sua habilidade, optaria pelo arremesso automático para fora da aeronave.




 (Cléa Magnani)


Apesar do despeito, Aristides nunca deixou transparecer quanto o sucesso de Marcos o incomodava. Até o havia convidado como padrinho em seu casamento com Ludmila, ex-colega de Engenharia de Voo no I.T.A. apenas para ver a reação de Marcos, ao testemunhar sua união com a jovem pela qual o amigo parecia se interessar na Faculdade. Mas quando Ludmila engravidou, nos primeiros anos de casados, Aristides recebeu dois duros golpes: sua amada apresentou um grave problema cardíaco e perdeu o bebê com poucos meses de gestação. Os Médicos disseram que ela necessitaria fazer um rigoroso tratamento, e também jamais poderia ser mãe. Aquelas duas “derrotas” aumentavam os sentimentos negativos dele contra o amigo. E agora, que Marcos também já havia se casado e teve sua primeira filha, a inveja de Aristides chegou ao auge. Desejando a morte daquele que o considerava como seu melhor amigo, cego pela inveja, planejou o defeito, que foi habilmente reparado por Marcos, e que o deixou temporariamente distraído da misteriosa Luz Azul. Voltando a atenção para o radar que nada registrava, Marcos olhou pela janela da cabine de comando, e lá estava ela, ou melhor estavam elas!! Sim! Um grupo de luzes azuladas, diáfanas, que pareciam flutuar em torno do avião. Piloto experiente, jamais havia passado por uma situação semelhante... ele voltava a consultar o radar, e nada aparecia!  Mas elas estavam ali circundando a aeronave, como se ela estivesse parada no ar... Marcos conferiu a velocidade: mais de mil km/hora! Tentava fotografá-las, mas nada era registrado na câmera... Foi aí que o mais improvável aconteceu...





 

 Final

(Deomídio Macêdo)

Adélia adentrou a catedral que costumava orar em Alfenas – MG. Fez o sinal da cruz, se ajoelhou com sua fé imensurável, e ali agradecia a Deus pelos nove meses de gravidez. Ao se levantar sentiu que o líquido amniótico descia entre as suas pernas e as primeiras contrações surgiam levemente. Pediu socorro, e o pároco, que a conhecia, correu em sua direção e a levou para o hospital. Naquela manhã, década de 70 nascia para a vida: Marcos Júnior. Vinte e um anos depois, certa noite, em uma missão, o Ten. Marcos Jr. passou por duas experiências inusitadas: A pane no seu caça Gripen, e logo após, um objeto voador, não identificado, em forma de disco, envolto em luzes o hipnotizara e o improvável aconteceu. Em segundos, adormecia, e na sua tela mental, surgia uma das cenas em que a sua mãe, no evangelho do lar falava amorosamente: Filho perdoe sempre. Ao sair do transe, as luzes tinham desaparecido. Dias depois, o Ten. Marcos descobriu que foi o colega Aristides que fez a sabotagem. No dia 25 de dezembro, Marcos comemorava o Natal com sua esposa Rute e com a sua filhinha Aninha, no clube de campo dos militares. Os jovens exibiam suas habilidades pulando do trampolim. Aristides por maldade, ao passar por Marcos, sorriu para ele sarcasticamente, abraçando fortemente sua esposa Ludmila. Sobe no trampolim e se joga espetacularmente na piscina olímpica. Achando estranho que o rapaz não retornava à borda, sem pensar duas vezes, Marcos entra na água e resgata o colega desmaiado. No hospital, Aristides solicitou a presença do seu salvador e abraçando-o em prantos lhe dizia: Marcos me perdoe. O menino, que dialogava com as nuvens brincalhonas nos céus de Alfenas - MG, entende a mensagem do disco voador e responde: Aristides, você está perdoado.

 

MONTEVIDEO

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